Dinâmico e profissional são duas palavras que definem o atual momento do marketing de influência. De acordo com o último relatório do Youpix, feito em 2019, este segmento é considerado estratégico para os negócios por 68% das empresas. Das companhias que participaram da pesquisa, sete em cada dez reforçam que essa modalidade traz resultados diferentes de qualquer outro tipo de comunicação.
Esses números ganharam novos contornos, sobretudo, em um ano no qual vários projetos precisaram ser repensados, inclusive aqueles que envolviam influenciadores. De uma hora para outra, muitas pessoas concentraram suas vidas em casa, e as telas passaram a ser a forma predominante de contato com o mundo. Nesse contexto, os creators tornaram-se ponto importante de conexão, informação e entretenimento.
Outra pesquisa do Youpix, a “Marketing de influência em tempos de pandemia de Covid-19”, divulgada em março deste ano, mostrou que 78,5% das marcas pretendiam manter o investimento em marketing de influência mesmo com o cenário de redução de aportes em função da crise econômica. O apontamento da pesquisa foi sentido na prática pela agência Mynd. Com um casting de 160 creators e influenciadores, entre eles, Cleo, Luísa Sonza, Pepita, Kevinho e Lucas Lucco, a Mynd viu um aquecimento nas demandas por parte das empresas.
Uma das premissas da agência foi continuar respeitando a linguagem dos seus criadores e propiciar um ambiente produtivo de cocriação entre artistas e anunciantes. “Trabalhamos ao máximo na realidade do creator para que ele faça a comunicação de forma que seja eficiente com o seu público. Tem que ser o mais orgânico possível e que tenha conexão com sua linguagem”, explica Fátima Pissarra, CEO da Mynd.
Harmonia e propósito
Em uma dinâmica de cocriação, o match perfeito entre influenciadores e marcas é fundamental, como lembra Fátima. Ainda de acordo com o estudo da agência Brunch, feito em parceria com o YouPix, mais do que estar em harmonia com o produto, 64,5% das marcas procuram criadores e influenciadores que tenham sinergia com o seu território, enquanto 58,7% buscam parceiros que estejam alinhados à proposta de valor. “É importante observar o influenciador pelo valor que ele possui para sua comunidade. Não importa o tamanho do influenciador, todos têm seu valor, potencial e propósito. A missão é encontrar a conexão perfeita entre a campanha e o comunicador”, afirma Preta Gil, sócia da Mynd.
Para conseguir essa conexão, o papel do planejamento da agência tem se mostrado essencial. Pensar conteúdo, ações de cultura digital e entretenimento por uma perspectiva estratégica é fundamental para conectar com o objetivo de negócio e de comunicação, bem como para associação eficiente das marcas às conversas e às narrativas criadas. “Fazemos análises do público e seu comportamento, trabalhando para identificar os melhores formatos para cada momento da jornada de consumo de conteúdo”, diz Felipe Muller, head de planejamento e conteúdo da agência.
Para poder alcançar o melhor resultado, ainda é preciso trabalhar em parceria na conscientização de anunciantes e criativos. Muitas marcas querem que o influenciador faça o spot de 30 segundos e fale os atributos técnicos do produto, o que deixa qualquer comunicação, digamos, forçada. Murilo Henare, CEO da Banca Digital, um dos projetos recentes da Mynd, pontua, no entanto, que essa realidade um tanto quanto engessada tem mudado, aos poucos. “Acredito que as marcas estão soltando o controle. Ainda tem aquelas que são mais tradicionais e menos flexíveis, mas, sem dúvida, os melhores resultados estão com quem se abre para cocriar”, completa Murilo.
A Mynd tem um papel importante quando se fala em luta por inclusão de minorias em campanhas publicitárias. A agência é referência quando o assunto é LGBTQIA+, e está no caminho de se tornar referência na inclusão da negritude também. “Impulsionamos os creators pretos para se tornarem protagonistas, potencializando suas vozes e seus projetos para que o mercado entenda que essas personalidades engajam e que eles podem falar sobre diversos assuntos”, diz Julio Beltrão, head do núcleo de creators pretos.
Clube de Influenciadores
O período de isolamento impulsionou projetos que antes poderiam ser inviáveis. Em outubro, em parceria com a Ame Digital, a Mynd criou o Clube de Influenciadores. O grupo reúne 23 personalidades de todo o Brasil e de diversos nichos, com o objetivo de potencializar a divulgação do conteúdo da marca nas redes sociais. Entre os participantes estão Gkay, Tia Má, Gleici Damasceno, Pepita, Gabriel Rocha, Caio Franco e Fernando Rocha. “Esse projeto tem regionalidade e diversidade de gênero. Conseguimos permear vários territórios e, o melhor, foi aprovado pela marca. Foi uma celebração para nós porque isso muda o mercado, é um primeiro passo para outras marcas seguirem o mesmo caminho”, afirma Fátima. A executiva destaca que é a primeira vez que uma marca faz um contrato de longo prazo com uma mulher trans, a funkeira Pepita. “As marcas ainda estão bem devagar na inclusão trans. Essa mudança vai acontecer. A gente vê que a parte racial vem evoluindo, mas essa diversidade de gênero ainda está engatinhando”, alerta.
Novos formatos de entretenimento
O período de isolamento social, vivenciado pelos brasileiros em 2020, deixou alguns aprendizados importantes para o mercado. As lives apoiadas por marcas mostraram que é possível desenhar novos formatos de entretenimento. “As lives tiveram uma alta expressiva e agora estão se normalizando. Esse formato abriu um caminho que não existia antes. Isso pode transformar o mercado, de agora em diante”, opina a CEO da Mynd.
Uma das ações com criação, produção e comercialização da Mynd foi o Festival do Orgulho Live. O evento contou com shows de Pabllo Vittar, Aretuza Lovi, Pepita, Mateus Carrilho e Urias, cada um em sua casa, e teve cerca de quatro horas de duração, em abril. Além de mostrar o apoio das marcas patrocinadoras Amstel e Ame Digital, que operacionalizaram as doações durante a apresentação, a live ainda ajudou a arrecadar fundos para entidades que apoiam a causa LGBTQIA+. Foram mais de 100 mil visualizações, em tempo real, e repercussão nas redes sociais e em portais de entretenimento.
As tradicionais festas juninas também tiveram de mudar o modelo, neste ano. A Mynd organizou a live de Simone & Simaria, em junho, para consolidar a Yokermesse, campanha da marca Yoki criada pela FCB Brasil, cujo objetivo era ajudar ao público a comemorar o São João em meio ao isolamento social. O show foi transmitido no YouTube da dupla e segue disponível no canal. Até o início de novembro, a apresentação contabilizava mais de 3,2 milhões de visualizações.
Outra mudança trazida no período foi a proximidade com as redes sociais. Muitos artistas que não estavam no TikTok, por exemplo, abriram contas e conhecerem a plataforma. “Foi uma oportunidade para fazer coisas novas, ampliar os leques, conversar com as marcas, se sentirem mais confortáveis. Isso foi muito positivo para o amadurecimento do mercado”, conta Fátima. Destaque ainda para o product placement no clipe “Toma”, de Luísa Sonza, em parceria com Mc Zaac. Com ares de academia dos anos 80, o filme teve a presença de quatro marcas: Apple, Netshoes, Avon e Mais Mu.
O ritmo acelerado de projetos resultou em crescimento. No começo do ano, a Mynd possuía 60 funcionários. Hoje, já são cem. “Esse crescimento se deve ao aumento no número de projetos que criamos. As marcas grandes e as novas aumentaram a presença no digital. As lives também ajudaram muito”, completa Fátima.
Banca Digital reúne “revistas” do Instagram
O quanto facilitaria para uma marca se ela pudesse negociar com uma única empresa a veiculação de seu anúncio personalizado em vários perfis do Instagram com o mesmo tema? Essa é a proposta da Banca Digital, projeto da Mynd criado para facilitar o alcance das marcas aos perfis de entretenimento de destaque no Instagram. Nos dez primeiros meses de 2020, já foram realizados 170 trabalhos, com um faturamento de R$ 15 milhões. “Antes era muito difícil para uma marca contratar cada um deles. Agora, juntamos todos os perfis de celebridades a entretenimento do Instagram, com a credibilidade da Mynd. A Banca Digital é como se fosse uma banca de revistas, mas com perfis do Instagram, e oferece a possibilidade de anunciar em todas ao mesmo tempo”, explica Fátima. Mesmo antes de levar sua ideia para a Mynd, Murilo Henare, hoje CEO da Banca Digital, já fazia algo que seria o embrião do projeto. “Quando um cliente vinha me procurar para fazer alguma campanha, eu já incluía os amigos de outros perfis também”, conta. Assim, as marcas acabavam anunciando em mais perfis por meio da influência dele. Um dos projetos recentes que envolveu a Banca Digital foi para lançar o novo pacote do serviço de streaming da Globo, o Globoplay + canais ao vivo. Os perfis que fazem parte do projeto da Mynd divulgaram o novo produto, cada um com sua linguagem própria. “Um dos assuntos que mais engajam nos perfis de entretenimento é falar sobre filme. A galera pede indicação de filmes e de série o tempo todo. Quando o pessoal de streaming e de TV aberta quis entrar na conversa, foi o match perfeito”, explica Henare.
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