“Aqui, tenho voz!”

Valter Rege já fez campanhas para Avon, Bradesco, Natura e The Body Shop e tem feito parcerias com empreendedores de favela

Thaís Monteiro

Valter Rege aterrissou no marketing de influência por falta de oportunidades em sua área de formação, o audiovisual. Nos últimos cinco anos, tem chamado a atenção de marcas como nanoinfluenciador. Com dez mil seguidores, o cineasta, favelado, preto e gay já fez campanhas para Avon, Bradesco, Natura e The Body Shop sobre o público LGBTQIAP+; para o Spotify sobre a valorização do funk; e ações sobre negritude e racismo com Magazine Luiza e 99. É, ainda, podcaster da série LoveCraft Country, da HBO. Também tem feito parcerias com empreendedores de favela e investido em projetos como cineasta.

Meio & Mensagem — Quando começou sua carreira como influenciador e por que decidiu apostar nesse segmento?
Valter Rege — Resolvi começar como influenciador porque não conseguia me inserir no mercado audiovisual. Sou formado em rádio e TV e trabalhei na pós-produção de algumas produtoras. Meu desejo era ser diretor e roteirista, mas, no Brasil, infelizmente, poucas pessoas pretas e faveladas conseguem se inserir no mercado da comunicação. Em 2015, um amigo disse que eu me comunicava muito bem e sugeriu que eu comprasse um celular melhor para criar um canal. Comecei no Energia Positiva, que se propunha a falar sobre ações positivas, mas as pessoas perguntavam sobre vivências como um cara gay, preto e favelado. Percebi que a internet era um ótimo lugar para ressignificar estereótipos e mostrar uma visão mais positiva dos nossos corpos e vivências e que poderia provocar discussões relevantes sem mudar o rumo dos meus sonhos. Apostei na internet porque percebi que, aqui, tenho voz!

M&M — Você já realiza trabalho para marcas?
Rege — Com cerca de três mil inscritos, comecei a pegar jobs. As marcas começaram a perceber que, mais do que vender produtos, as pessoas procuravam representação. Devemos isso muito às mulheres negras que começaram a falar de beleza e a reclamar que não existiam produtos para o nosso tipo de pele e cabelo. Aos poucos, começamos a falar sobre sociedade na internet. Como nano, me permito ser eu mesmo. Posso focar em ações que conversam com aquilo que acredito. Com a visibilidade da internet, posso ser um profissional multitarefa e fazer coisas que amo, fechar com marcas que conversem com aquilo que acredito, ter autonomia para criar um material com embasamento e viver daquilo que amo, o audiovisual.

M&M — Quais são as vantagens em ser um nanoinfluenciador?
Rege — Acho que, como nano, me permito ser eu mesmo. Posso focar em ações que conversam com aquilo no que acredito. Com a visibilidade da internet, posso ser um profissional multitarefa e fazer coisas que amo, como, por exemplo, ir a escolas fazer palestras sobre homossexualidade, favela e negritude. Fechar com marcas que conversem com aquilo que acredito, ter autonomia para criar um material com embasamento e viver daquilo que amo, o audiovisual. É óbvio que todo influenciador sonha em ser grande, mas construir uma história consistente é o que mais quero!

“Há uma demanda a qual os influenciadores grandes, em sua maioria brancos, não podem suprir, como as vivências reais em uma favela de corpos negros”

M&M — E quais são os maiores desafios?
Rege — São os estereótipos, pois não sou apenas nano. Sou gay, preto, favelado e cineasta e vivemos em um país extremamente racista e homofóbico. Mas, há uma demanda de mercado a qual os influenciadores grandes, em sua maioria brancos, não podem suprir, como as vivências reais em uma favela de corpos negros. Sou um combo, então sempre uso esse combo ao meu favor!

M&M — Você se vê amparado por alguma agência de influenciadores ou plataformas de segmentação?
Rege — Trabalho há alguns anos com a Côrtes Assessoria. Nessa agência, aprendi muito sobre dar valor ao meu trabalho e precificar a minha potência. Egnalda (Cortês, fundadora) é uma mulher incrível que abriu o mercado para que muitos creators fossem inseridos. Encontrei no Instagram um ótimo veículo de trabalho, pois consigo subir vídeos e fotos e a entrega é incrível. Entrei recentemente no TikTok porque, durante a pandemia, teve um crescimento incrível. É onde consigo ser mais leve sem sair dos meus pilares: homossexualidade, negritude e periferia. O YouTube é meu amor, pois amo a tela horizontal. Subo vídeos que exigem mais tempo e profundidade.

M&M — De que forma a pandemia influenciou seu trabalho?
Rege — Me aproximei da favela e isso me motivou a lutar mais. Criei o meu cantinho que denominei de “home office de favela” e senti que o público gostou de ver uma favela construída por um olhar menos violento. O audiovisual nos ensinou a ver a favela de uma forma muito marginalizada, então, coloco cores em nossa vida. A minha casa é colorida, falo sobre café da manhã, sobre conquistar uma cama-escritório. Afinal, nossos esticadinhos são verticais e precisamos aproveitar os espaços! As marcas precisam valorizar isso, pois aquecemos as vendas, todo favelado é caprichoso com a casa! Consegui fazer palestras online para escolas públicas e incentivar os jovens a usar o WiFi com consciência. Tive tempo de fazer vídeos que antes não podia e obtive crescimento considerável! Até fiz a adaptação de uma obra francesa para cinema, mas isso ainda está em segredo, porém, compartilhei todo o processo de imersão com meu público! Isso faz com que eles também se sintam capazes.

M&M — Por que o nano influenciador ganhou mais importância?
Rege — Acho que as empresas se deram conta que nem todo grande influenciador consegue, de fato, influenciar! Tem vivências muito específicas nas quais os nanos conseguem ser mais viáveis. No empreendedorismo de favela, por exemplo, há uma demanda muito regional e algumas marcas se beneficiam disso. Acabamos fazendo pequenas campanhas segmentadas e isso faz a economia girar. Na hora de escolher influenciadores nanos para grandes campanhas, isso deve ser levado em consideração, afinal de contas, somos pequenos em números, mas conseguimos gerar consumo e transformação.

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