“Na internet somos mais que aspas ou dados”

Amanda Ramalho, do podcast Esquizofrenoias, conta sobre como cuidar da própria saúde mental e, ao mesmo tempo, falar sobre o tema na internet

Thaís Monteiro

Jornalista há 16 anos, Amanda Ramalho percorreu uma trajetória em rádio, televisão (programa Pânico) e portais de conteúdo (Vírgula). Em 2015, começou a produzir conteúdo para o YouTube e, três anos mais tarde, lançou o podcast Esquizofrenóias, cuja premissa é ter uma conversa aberta sobre saúde mental com convidados de forma leve, sem glamour e didático, já que convive com ansiedade e depressão diagnosticadas desde jovem. Apesar do reconhecimento do público e premiações, Amanda conta ao Meio & Mensagem porque considera a saúde mental ainda um tabu e como une saúde mental e a produção de conteúdo para a internet.

Amanda Ramalho (Crédito: Divulgação/Tassio Yuri)

Meio & Mensagem – Dentre as outras formas de mídia (TV, rádio, revistas, portais) para discutir o assunto saúde mental, qual é o diferencial de fazê-lo na internet?

Amanda Ramalho – Acredito que a proximidade. A internet humaniza. Ela transforma personagens reais que seriam inatingíveis nas outras mídias em nossos semelhantes. Na internet somos mais que aspas ou dados. Também acho que a conversa em primeira pessoa facilita a identificação do público. Nas outras mídias não existe este “tempo” para essa aproximação, acaba por ser apenas um texto, uma matéria de 2 minutos na televisão. Não dá tempo de continuar e aprofundar a conversa. 

M&M – Você considera a saúde mental um tema delicado e ainda tabu? Quais são os cuidados que você toma na produção de conteúdo sobre os temas abordados?

Amanda – Gostaria de dizer que não, mas a saúde mental ainda é tabu sim. Os principais cuidados que eu tomo são: não produzir conteúdo durante alguma crise minha (até porque não sou uma máquina e o que eu diria durante uma crise pode ser completamente diferente do que nos momentos que estou bem, que, hoje, são a maioria) e não entrevistar ninguém que se mostre em algum momento de fragilidade ou crise. Acredito que isso acaba sendo um desserviço de minha parte do que eu me proponho a fazer, já que considero o Esquizofrenoias educação.

M&M – De que forma o seu trabalho ou o tema que você trata impacta sua relação com marcas?

Amanda – Tem sido muito legal. No começo (há quatro anos), rolava um receio por partes das marcas: “tá, mas só remédio vai poder ser conectado ao seu trabalho?”. Hoje isso já caiu. Não somente nas marcas, mas todo mundo vem entendendo que saúde mental também é saúde. Tudo é saúde mental. A gente não consome só remédio, a gente consome tudo, né? Desde batom, skincare, utilidades domésticas, tênis.

M&M – Ultimamente, temos visto cada vez mais intensas mudanças nos algoritmos de entrega das redes sociais e plataformas digitais. Como isso impacta criadores de conteúdo para tais plataformas?

Amanda – Acho que gera insegurança. Já vi influencer oferecer Pix para quem engajar no conteúdo. Sinto um desespero por parte dos influenciadores para entregar e serem chamados para mais publis. Como isso é tudo muito novo, essas adaptações devem rolar até as marcas, os produtores de conteúdo e as plataformas entenderem que o que se tem ali nada mais é que material humano.

M&M – Criadores de conteúdo muitas vezes dependem do seu alcance e engajamento nas redes para fechar acordos comerciais e, assim, se sustentar. Como os influenciadores podem melhor se preparar para não ficar reféns ou vulneráveis de mudanças de algoritmos tanto mentalmente quanto comercialmente?

Amanda – Comparação nunca é saudável, seja com o seu momento “auge” seja com o seu “concorrente” – se é que ele existe, normalmente existe mas só na nossa cabeça. Como na internet tudo muda muito rápido, seria muita hipocrisia de minha parte dizer para estar preparado para essas mudanças. A gente nunca está, como eu disse: somos material humano. O ideal seria não sentir tanto o impacto dessas mudanças, até porque semana que vem tem outra e, muitas vezes, a gente nem processou a primeira ainda e eles já vem com novidade.

M&M – As próprias redes iniciaram movimentos para preservar a saúde mental dos usuários. Um caso muito significativo foi o das curtidas do Instagram, mas isso já foi revertido. Qual é a sua opinião sobre os esforços das plataformas?

Amanda – Acho válido. Para uma pessoa que não trabalha com isso, cada like já funciona como uma recompensa, imagina para uma pessoa que trabalha? No mais, como tudo isso vem sendo criado meio que ao vivo, digo as redes e ferramentas, a gente vai ver grandes erros e acertos ainda e muito sofrimento será causado com a maior das boas intenções.

M&M – Como você cuida da sua saúde mental como produtora de conteúdo?

Amanda – Procuro não me comparar. É fácil? Não! E tenho filtro de palavras (risos). Mas sério: eu não uso o celular antes de dormir, não vejo emails nem respondo depois de uma certa hora. Prático a higiene do sono. Se eu acordo no meio da noite, eu não pego o celular porque eu posso perder o sono e, para mim, um sono reparador é uma parte importante para minha saúde mental e até física.

Crédito da imagem no topo: Solarseven/Shutterstock

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